sexta-feira, 17 de setembro de 2021
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terça-feira, 14 de setembro de 2021
* - A Assinatura
A ASSINATURA
Diariamente, por volta das seis da manhã,
metodicamente, o pessoal que estava saindo comparecia para devolver o material
do serviço noturno ao balcão da ferramentaria e os que estavam chegando receber
para o serviço diurno. Eram chaves de todos os tipos, martelos, marretas,
serras, material elétrico, válvulas, botas, luvas, caldeiraria, todo o
equipamento enfim para o funcionamento da usina alcooleira Embaúba.
Um dos
funcionários, porém, negro, de pequena estatura e cabelos grisalhos do avançado
da idade chamava particularmente a minha atenção pelo carinho na escolha do
vassourão, como se fora objeto sagrado, seu companheiro do dia. Eu não sabia
nem qual era o setor em que ele prestava serviço, pois eram muitas as
instalações. No momento de assinar a ficha de recebimento do material, enquanto
os outros simplesmente rubricavam, ele retirava os óculos da caixa presa ao
cinturão, colocava no rosto e, apanhando a esferográfica, apunha com mão
trêmula o seu nome completo, conforme aprendera na escolinha da vila já de
muitos e muitos anos antes, como se quisesse naquele gesto colocar todo o
conhecimento que tivera vontade de adquirir e não conseguira nos idos tempos de
moço, de trabalho pesado, suor, lágrimas de angústia e sofrimento por que
houvera passado, restando a recordação da época que se fora nas águas
turbilhonosas do passado que se vai e nunca mais retorna, a não ser unicamente
pela lembrança dos que, apesar das dores, dos sofrimentos e do avançado da
idade ainda têm ânimo, coragem e resignação para sonhar com um futuro
promissor.
Que Deus os
abençoe!...
Raul Santos
Usina Embaúba, Eunápolis, BA, 01 de março de 1985.